domingo, 13 de março de 2016

Sobrevivendo em Copenhagen: Ida ao médico

Olá pessoal,

O sistema de saúde aqui da Dinamarca é visto de forma diferente entre os brasileiros que eu conheço: uns adoram, outros não. A minha experiência com ele foi bastante positiva e eu achei tudo muito prático e moderno. Vamos lá!


Quando cheguei aqui no ano passado e dei entrada na minha permissão de residência, tive que dar entrada também no meu cartão de segurança social, ou cartão amarelo, obrigatório a todos os residentes do país. O cartão amarelo é sua vida. Com ele, você recebe um número pessoal chamado CPR que te acompanhará para todo o sempre. Ele funciona como uma espécie de identidade + cpf e é necessário para abrir conta em banco, contratar serviço de internet, tv a cabo, número de telefone, luz ou qualquer coisa que você queira colocar em seu nome. Só um exemplo: tivemos que adquirir um seguro para o apartamento onde moramos e a única coisa que precisamos fornecer para a atendente foi o número CPR do Gustavo. Através dele, a atendente teve informações sobre nosso endereço, andar em que moramos e quantos metros quadrados o apartamento possui. É um pouco assustador que as pessoas tenham acesso a detalhes da sua vida, mas também é super prático.
Bem... no cartão amarelo também está impresso o nome de seu médico particular e o telefone e endereço de onde ele atende. Isso quer dizer que se eu tiver dor de ouvido, irei nesse médico. Se for dor no pé, irei nesse médico. Se estiver com cólica, irei nesse médico. Se me sentir enjoada, adivinhem? Irei nesse médico. Aqui na Dinamarca, a não ser que seja alguma emergência, você deve SEMPRE ir no seu médico particular. Ele irá te examinar e, se achar que pode resolver seu problema, irá fazê-lo. Caso contrário, ele irá te encaminhar para um especialista. E um detalhe, é tudo de graça.
Bem, agora que inteirei vocês sobre o sistema de saúde dinamarquês, vou contar a minha experiência. Já vou avisando que farei isso de uma forma bastante detalhada porque vale a pena. Olhando pra trás, foi muito engraçado. :)



O meu problema era uma irritante infecção urinária. Graças a ela eu não conseguia dormir e sentia vontade de chorar só em pensar em fazer xixi. O curioso foi que eu descobri que, no inverno, as mulheres estão muito mais propensas a desenvolverem uma infecção urinária aqui em Copenhagen. E, coincidentemente ou não, isso aconteceu na primeira semana de frio intenso em janeiro. Bem, eu liguei para o telefone da minha médica e uma mensagem eletrônica atendeu em dinamarquês e a única coisa que eu consegui ouvir foi algo que soava como "press nie fier". Pensei: ok, não se desespere. Escrevi "press nie fier" no google tradutor e, obviamente, não obtive sucesso. Pensei: ok, mantenha a calma. Procurei no google como eram os números de 0 a 9 e # e * em dinamarquês. Descobri que quatro é "fire" e me senti completamente vitoriosa achando que a gravação estava me mandando apertar 4. Apertei 4. Mudo. Apertei 4 e *. Caiu a ligação. "Ok, vamos tentar de novo. De boa." Liguei de novo. Apertei 4 e #. Caiu a ligação. "Rrrrrr.. não. Está tudo bem. De repente tenho que apertar o # antes do 4". Liguei de novo. Apertei # e 4. Caiu. "Taquipar....". Liguei de novo. Apertei * e 4. Caiu. "AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA!!! QUERO VER AGORA!". Liguei de novo. Apertei 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 0, *, #. Caiu. "AAAA!!! EU SÓ QUERO PODER FAZER XIXI!!!! MALDITA LÍNGUA RIDÍCULA!". Depois de muitas tentativas e variados métodos (que não vou descrever porque são bem ridículos), eu desisti e pedi para o Gustavo ligar pra mim na manhã seguinte já que eu estaria no trabalho e não poderia ligar. Ele ligou (e conseguiu de primeira! Complô!) e a secretária disse que eu deveria comparecer na manhã seguinte ao consultório para que pudessem colher minha urina. Foi aí que veio o desespero... Eu só queria aparecer lá e ganhar um lindo antibiótico de mão beijada para que eu ficasse boa logo mas, ao invés disso, teria que ir para deixar uma amostra de urina, depois esperar mais sei lá quantos dias para saber o resultado, e depois mais tantos outros para conseguir marcar uma consulta com a médica. Mas eu não tinha escolha, não é? Cheguei no consultório e a secretária, que estava ao telefone, sorriu pra mim. Eu sorri de volta e fiquei em pé ao balcão, esperando que ela terminasse a ligação e me atendesse. Ela olhou de novo pra mim e riu. Eu ri e continuei esperando. Ela passou a olhar com uma cara meio estranha, e eu também (já que estava ficando impaciente por não ser atendida). Em algum momento em meio a estranha tensão, a secretária colocou a mão no fone do telefone para abafar o som e perguntou para mim o que eu queria. Respondi que precisava fazer um exame de urina e ela disse, um pouco impaciente: Sim. É só passar o cartão amarelo na máquina. E fez uma cara tipo: dãh!
Peguei meu cartão, passei na máquina (que mais parece uma maquininha da cielo) e pronto. Não precisei assinar nada. Ela nem checou nenhum documento com foto para ter certeza de que eu era realmente a Carine, dona daquele cartão amarelo. Magicamente, uma médica sorridonha apareceu chamando o meu nome por volta de 2 minutos depois. No consultório, ela viu que eu era estrangeira e, muito simpática, perguntou de onde eu era. Respondi Brasil e pude ver o rosto da mulher ficando branco. Acho que na cabeça dela, ela estava gritando desesperadamente "Por favor, não tenha alguma doença tropical que eu não faça a menor ideia de como tratar. Melhor ainda... por favor, não tenha zika". Eu disse que estava com infecção urinária e a feição dela voltou ao normal. Depois de descrever meus sintomas ela escreveu meu nome em um post-it e pediu para que a acompanhasse até o banheiro. Lá, ela pegou um copinho descartável, colou o post-it no copinho e disse: É só fazer xixi aqui, deixar o copo em cima da pia e depois me chamar. Eu fiquei tipo:


Depois da experiência de fazer xixi em um copinho de festa infantil com uma etiqueta estilo "não esquecer de analisar a urina da Carine", abri a porta do banheiro e dei de cara com uma menina esperando para usá-lo. Dei um sorrisinho pra ela e voltei para a sala da médica morrendo de vergonha e imaginando a menina lavando a mão e olhando para meu xixi do lado do frasco do sabonete. A médica, então, pediu para que eu sentasse e saiu da sala. Cinco minutos depois volta ela com um papelzinho na mão: O seu exame apontou que você está mesmo com infecção. Normalmente nós fazemos aqui mesmo a cultura para determinar qual é a bactéria mas, como hoje é sexta, não haverá ninguém para olhar o resultado amanhã e, por isso, mandarei para um laboratório externo, ok? Eu: Hmm.. ok. Ela: Imagino que você não queira esperar segunda para tomar remédio, não é? Eu: Não. Ela: Então vou te passar um antibiótico mais genérico e se o resultado apontar outra bactéria eu te ligo para te avisar que mudei o remédio, ok? Eu: Hmm. ok. Ela (digitando no computador): É só tomar esse remédio 3 vezes ao dia por 3 dias. É isso. Tenha uma boa semana. E beba muita água. Eu, esperando pelo papelzinho da receita: Obrigada. Boa semana também. Ainda esperando o papelzinho da receita......... Ainda esperando...... Esperando..... Ela: Posso ajudar em mais alguma coisa? Nesse momento eu lembrei do pequeno mico que passei com a secretária e decidi que deveria haver algum bom motivo para que ela não me entregasse a receita. Decidi confiar e chegar na farmácia sem nada em mãos mesmo. Respondi: Aaaaahn... não. Obrigada. E fui embora 15 minutos depois de ter chegado no consultório. Rápido assim. Fui na farmácia torcendo para não ter feito merda ao não insistir pela receita. O atendente pediu meu cartão amarelo, passou em outra maquininha estilo cartão de crédito, olhou para o computador e falou: Ah.. você está com infecção urinária e precisa de antibiótico, né? Vou pegar seu remédio.


Ele voltou com meu remédio e imprimiu uma etiqueta com as instruções de uso que a médica fez. Colou na embalagem e me entregou. Quando fui pagar, ele viu alguma coisa no computador de novo e falou: Ahh.. você tem o seguro saúde Danmark, não tem? Eu: Hmm.... Tenho. Ele: Ok, então vou registrar aqui que você comprou o antibiótico e eles devem te reembolsar. Eu: Hmm. Ok. Ele: Até mais, e não se esqueça de beber muita água!



Resumindo minha experiência com o sistema de saúde dinamarquês: surreal e de outro mundo!


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