terça-feira, 8 de março de 2016

Sobrevivendo em Copenhagen: Igualdade de gênero

Oi genteeeee,

Estou viva! Com vergonha por estar tanto tempo sem escrever, mas viva! Do dia 1 de janeiro pra cá eu me mudei de apartamento, comecei a trabalhar, tive muitas fotos pra editar, e iniciei um processo de reanálise do meu mestrado. O tempo ficou mais curto e o cansaço ficou maior. Agora eu chego em casa e fico jogada no sofá vendo seriado por algumas horas. :P
Enfim.. que dia melhor para voltar a escrever do que o Dia Internacional das Mulheres?! Que lugar melhor para se escrever sobre igualdade de gêneros do que o melhor país do mundo para uma mulher viver?! Sim, a Dinamarca foi eleita o melhor país para o público feminino e eu vou mostrar aqui o quanto isso é verdade!
Bem... quem me conhece sabe que eu sou uma pessoa calma e na minha. Odeio polêmica. Nas raras vezes que eu postei sobre assuntos delicados no facebook, me arrependi. Simplesmente não tenho paciência e prefiro seguir aquela velha religião chamada "deboísmo".


Acho que chegou o momento de deixar de ficar apática. Atingi a meta depois de dobrá-la e está na hora de falar sobre feminismo. Vejo muitas mulheres condenarem o feminismo. Pessoas inteligentes, estudadas. Pessoas que possuem religião que prega que somos todos iguais. Eu entendo, juro que entendo, o motivo delas serem contrárias à causa. Elas acham que as "feminazi" são chatas "pra caralho" e que elas querem ser maiores que os homens. Que fique bem claro que ISSO NÃO É VERDADE.

Aqui está a definição de feminismo no dicionário: Movimento iniciado na Europa com o intuito de conquistar a equiparação dos direitos políticos e sociais de ambos os sexos.
Ou seja, movimento que busca a igualdade dos direitos políticos e sociais entre homens e mulheres. Você, amiga minha do facebook, acha que as mulheres e os homens deveriam ter os mesmos direitos políticos e sociais? Se sim, e eu creio que sim, então você é feminista. O problema aqui é que as pessoas tendem a bipolarizar as coisas: Ou você pode ser esquerda caviar, ou coxinha; ou você pode ser petrália ou odiar o pt; ou você pode gostar de gatos, ou de cachorros... Mas a vida seria (e é) muito chata se as coisas fossem simples assim. Por que uma pessoa não pode ter uma inclinação política de esquerda, mas discordar em alguns pontos? Por que uma pessoa não pode concordar que o PT está cheio de corruptos, mas que já fez muitas coisas boas para o país? Por que uma pessoa não pode gostar de gatos E cachorros? É a mesma coisa com o feminismo. Existem mulheres que se colocam acima dos homens e clamam por coisas que NÃO É de cunho do movimento feminista. Existem extremistas. Isso não faz com que o movimento deixe de ser o que é. Se você concorda que as mulheres devem ter os mesmos direitos que os homens, então você é feminista mesmo que você não concorde com o que mulheres extremistas falam (até porque, essas daí já não estão mais caracterizadas como feministas). Se você ainda não está convencida, aqui vai o meu relato sobre o melhor país para as mulheres viverem do mundo:

Meu contato com a igualdade de gênero começou ainda no aeroporto. Quando vim visitar o Gustavo trouxe duas malas pesadas, lotadas de coisas. Muito capenga, tirei as bagagens da esteira com um pouco de dificuldade e os homens que estavam à minha volta simplesmente ficaram olhando. Na volta para o Brasil, só de olhar a mala vindo, um cara que estava do meu lado já se adiantou e pegou pra mim. Dei um sorriso, agradeci, e fim da história. Você pode estar pensando: É muito mais legal e gentil o cara que te ajudou do que o que ficou olhando e deixou você carregar o peso sozinha. Tá, mas guarde esse pensamento para daqui a pouco.

Outra situação bem diferente para nós, brasileiras, aconteceu quando fui jantar na casa do orientador do Gustavo que simplesmente é chefe das coleções do Museu de História Natural da Dinamarca, e vice-diretor da mesma instituição. O cara não sentou enquanto a esposa dele não fez o mesmo. O tempo inteiro em que ela estava cozinhando, ele estava do lado ajudando. Ele cortou alho e cebola, fez salada, colocou a mesa, serviu vinho pra ela enquanto ela cozinhava, etc. etc. etc. No final do jantar, os dois juntos tiraram tudo da mesa e cuidaram da louça. Só pra constar, ele não é nenhum garoto. Ele é de uma geração em que, no Brasil, 99,999999% dos homens não moviam uma palha para ajudar as esposas na cozinha.

Os homens vão buscar seus filhos no jardim de infância. De bicicleta. Colocam as crianças em um tipo de carrinho acoplado à bike, e lá vão eles. Eles vão em reuniões escolares. Eles levam as crianças para passear na rua diariamente. Eles trocam fralda, dão banho. Na verdade, eles têm licença paternidade de 2 semanas assim que o bebê nasce, e ao final da licença da mãe (que é de 14 semanas), o casal ainda tem o direito a 32 semanas que pode ser dividida entre eles como eles quiserem. Ou seja, dentre essas 32 semanas, a mãe pode ficar em casa por 16 semanas e o pai por mais 16, por exemplo. Resumindo a ópera: o primeiro ano de vida da criança será passado inteiramente com pelo menos um dos pais presente. O que quero dizer é que o casal dinamarquês divide de verdade a vida a dois. Eles dividem a responsabilidade na educação dos filhos e nas tarefas domésticas. Ahhh, e nenhum homem reclama e nem acha isso ruim. É simplesmente justo.

Falando ainda sobre a questão de ter filhos na Dinamarca... Uma amiga brasileira teve uma filha aqui e me contou algumas coisas interessantes. O parto costuma ser o normal, mas a mãe tem o direito de escolher se quiser algo diferente. Uma parteira te acompanha durante a gravidez e é ela quem vai fazer o parto. O obstetra só é acionado em casos especiais, como por exemplo se houver alguma complicação na gravidez ou se a gestante optar pela cesariana. Depois que a criança nasce, você só precisa ir no pediatra em alguns casos. O que acontece é que uma enfermeira vai até a sua casa para examinar o bebê (pesar, medir, etc. etc.), ter certeza de que ele está sendo bem cuidado e em um lar com condições humanas, e verificar se a mãe apresenta algum sinal de depressão pós parto. Maneiríssimo, né?

O que eu mais amo aqui da Dinamarca é o fato de eu não me sentir um pedaço de carne. Os homens não mexem com as mulheres na rua. NUNCA. As mulheres andam de bicicleta usando saia curta e vestido e ninguém olha. Estou aqui há quase um ano e só fui abordada por 3 homens. Os 3 eram imigrantes, e não dinamarqueses. Mesmo assim, eles só ficavam perguntando meu nome e o que eu fazia aqui. Um deles perguntou se eu queria ter um namorado fora do meu relacionamento. Eu simplesmente disse não e ele foi embora. Aqui nunca ninguém passou por mim e disse que queria me comer todinha ou que eu sou uma delícia ou gostosa, como acontece com todas nós no Brasil. Aqui nenhum homem jamais tocou em mim sem a minha permissão. Nenhum homem segurou meu queixo, puxou meu cabelo ou apertou a minha bunda. Aqui o homem não precisa ficar provando sua masculinidade pra sei lá quem. Aliás, são as mulheres que chegam nos homens nas festas. E elas não são chamadas de piranhas. E pra você que acha que a mulher que usava roupa curta e foi estuprada estava "pedindo", aqui na Dinamarca as pessoas trocam de roupa na frente das outras. E adivinha só! Elas não são estupradas! Meus colegas de trabalho (coloque aí uns 5 homens e 5 mulheres, mais ou menos) trocam de roupa TODOS JUNTOS. Uma vez minha chefe estava falando o que tínhamos que fazer no dia e trocou a blusa no meio do parágrafo. Com todos nós ali prestando atenção. Eu era a única que estava achando aquilo esquisito. Todos continuaram agindo normalmente. Minha chefe não foi estuprada.

Agora vamos ao meu trabalho. Bem... alguém me disse que estavam querendo contratar pessoas para ajudar na mudança das coleções de geologia e botânica do Museu de História Natural. Eu estava louca por me ocupar e ganhar dinheiro, e fui correndo me inscrever. O ano passado não foi fácil para mim, por isso eu estava sonhando MUITO com um emprego, na esperança de me sentir melhor. No dia da entrevista coloquei a minha melhor roupa, fiz cachos no cabelo estilo Gisele Bundchen e a melhor maquiagem executiva que consegui. Eu não tinha a menor ideia do que era o emprego. Quando cheguei lá, com duas cartas de recomendação em mãos, meus chefes me disseram que o trabalho não necessitava de nenhum tipo de qualificação e que eles estavam procurando uma pessoa que não se importasse de se sujar e carregar bastante peso. Você, brasileiro, imagine a cena pela perspectiva de um empregador daí: ele quer um peão. Alguém que use uma roupa de trabalho estilo daquelas de gari, que se suje e carregue peso. Aí chego eu na entrevista parecendo a princesa Aurora. Branquelinha, unhas pintadas de rosa, toda maquiada, ondinhas a la Gisele, roupinhas fashion. Ele no mínimo iria rir e me chamar de patricinha. Pois é.. ainda bem que estou na Dinamarca, porque eu consegui o emprego. Graças ao meu emprego eu e Gustavo estamos estabilizados financeiramente, eu estou extremamente feliz e me sentindo útil pela primeira vez em muitos meses. Qualquer dia faço um post sobre salário dinamarquês e leis trabalhistas pra vocês entenderem o quanto foi bom ter conseguido este emprego. Agora voltando ao episódio da mala do aeroporto, onde você achou horrível o cara que não me ajudou a carregar peso. Hoje eu agradeço a ele. Graças a ele e a grande parte dos homens dinamarqueses eu não sou vista como um pedaço frágil de vidro. Graças a ele, meus chefes acharam que eu merecia meu emprego e que eu tinha capacidade de cumprir as tarefas com sucesso. E não é pra menos. Meu chefe não para de dizer o quanto está impressionado com a rapidez com que minha equipe (formada por 3 mulheres) está realizando a mudança das coleções. Estamos muito a frente do prazo. E foi graças a homens e mulheres feministas.

Feliz dia das mulheres!

4 comentários:

  1. Filha, só consigo visualizá-la como "saindo da casca do ovo", como diz sua vó Fernanda. Ontem você com seu jeitinho meigo, sua voz suave, com aquela expressão de "que? Onde?" e hoje, do outro lado do mundo se virando e se superando. Parabéns pelo texto. Saudades do tamanho da nossa distância. Te amo. bjs. Isabel

    ResponderExcluir
  2. Estou virando fã sob seu blog Dn Carine! Concordo plenamente com tudo que disse, sempre foi uma menina e agora mulher muito inteligente e sensível...levemente lenta, mas isso já melhorou um bocado! Haiahaiaahuahu.....parabéns pelo nosso dia minha amiga!Beijão e espero mais posts

    ResponderExcluir
  3. São nossas experiências q nos definem. Legal, vc ter tanto a compartilhar! Bjs

    ResponderExcluir

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...