Livro: Mil beijos de garoto - Tillie Cole

Preciso desabafar.
Eu acabei de ler Mil Beijos de Garoto da Tillie Cole. Nesse segundo. Agorinha mesmo. E eu sinceramente, do fundo do meu coração (ou do que sobrou dele) estou arrasada.
Antes de mais nada, vou tentar realizar a proeza de resumir a sinopse do livro sem dar spoilers. Entretanto, quando eu comentar meus pensamentos em relação a ele, não terei como evitar escapulir algumas coisas, então estejam avisados!

Sinopse:

Poppy conheceu Rune aos 5 anos de idade quando o menino, vindo da Noruega, se mudou para a casa ao lado da dela. Desde o primeiro dia eles se tornaram melhores amigos até o infinito. Entretanto, alguns anos depois, quando Poppy tinha 9 anos, sua avó querida e principal companheira de aventuras faleceu, mas não sem antes lhe presentear com um pote contendo 1000 corações de papel em branco. Essa seria sua maior aventura, sua avó dissera, seria o seu pote de "beijos de garoto". Ela deveria registrar os beijos que receberia em cada um dos corações de papel, mas apenas aqueles beijos que fizessem seu coração quase explodir seriam dignos de registro. Rune não conseguia imaginar qualquer outra pessoa beijando Poppymin (sua Poppy) e, por isso, lhe pediu o primeiro beijo e lhe prometeu todos os outros 999. Daí em diante eles se tornaram Poppy e Rune até o infinito. Para sempre e sempre.
Quando o casal tinha quase 16 anos, uma reviravolta abalou a relação dos dois: Rune teria que voltar com a família para a Noruega. Eles disseram até logo com a promessa de que se falariam todos os dias, e de que se veriam novamente. Não era o fim. Contudo, logo descobriram que as coisas não funcionavam como queriam e perderam o contato após alguns meses, apenas para se reencontrarem 2 anos depois. Eles, agora, eram estranhos um para o outro, mas uma reviravolta da vida os fazem lutar para encher o pote de "beijos de garoto" antes que seja tarde demais.

Minha opinião: (SPOILERS!)

Finalmente a parte em que eu desabafo. Gente... eu nunca chorei tanto lendo um livro! Para vocês entenderem todo o drama, deem uma olhada na foto que meu marido tirou enquanto eu estava absorta na leitura:

Detalhe para a mãozinha no peito. Detalhe para o banquinho de pernas tortas que eu mesma fiz especialmente para colocar os pés enquanto estivesse lendo. Detalhe para meu home-made banquinho abandonado já que eu não tinham forças para me mover na poltrona.
Eu sei. Estou sendo dramática.

Mas a verdade é que esse livro mexeu muito comigo, apesar de o enredo de forma geral ser igual a muitos outros livros e filmes que existem por aí. Pode até ser um cliché de Young Adult, mas a forma com que ele foi narrado e as emoções que Tillie Cole conseguiu me fazer sentir valeram cada linha. E não é esse o objetivo de todo bom autor? Fazer seus leitores sentirem? Pois ela acertou em cheio e levou um pedaço da minha estabilidade emocional com ela.
Poppy e Rune são o casal perfeito. Não porque são literalmente assim, mas porque o são apesar de seus defeitos. Eles fazem todo adolescente desejar um amor igual, e todo adulto imaginar que seus filhos, nascidos ou não, possam ser felizes assim algum dia. Eles são a personificação do amor em sua forma mais pura.
Meu único porém nessa história toda é que eu não curti o final. Na verdade, eu desejei diferentes finais em diferentes etapas do livro. Foi mais ou menos como as 5 fases do luto. Primeiro veio a negação: eu tive a certeza de que um milagre aconteceria e ela não iria morrer. Como se o beijo de amor verdadeiro que acordou a Bela Adormecida e a Branca de Neve fosse curar o câncer da Poppy. Depois veio a raiva: o livro caminhava para o inevitável e tudo o que eu sentia era revolta. Eu gritava (literalmente) que "nesse tipo de livro, fugir do cliché seria ela ficar viva". Meu marido não parava de rir das minhas demonstrações de sentimento em voz alta, o que me lembrou daquela frase que diz que a tristeza de uns é a alegria de outros. Mas então veio a fase da barganha: Poppy e Rune passaram a noite juntos e eu fiquei super feliz. "Tudo bem... Ela vai morrer, mas antes vai ficar grávida e viver o suficiente até ter um filho. Aí o amor deles ficará eternizado". Por favor, parem de rir de mim. Eu sou ridícula, eu sei, mas como eu disse, esse livro me tirou do sério. A fase da depressão foi a mais difícil: Poppy morreu. Era real. E as últimas semanas dela haviam sido tão especiais quanto era possível ser especial e tudo o que eu conseguia fazer era chorar. Eu tive que bloquear o kindle, lavar o rosto e fazer um café. E então veio a última fase, a aceitação: Poppy deixou um pote de "beijos de garota" para Rune, para que ele pudesse seguir com a vida e ser feliz. Aceitei. Imaginei o que seria um bom final de livro: o Rune beijando alguém especial e depositando no pote seu primeiro coração de "beijos de garota" depois de um longo período de luto. Eu tinha aceitado. Eu estava bem. Eu tinha passado por todas as fases de luto. Eu tinha acreditado na calmaria depois da tormenta. Mas aí o que é que acontece? Ele morre. Simples assim. Ele morre. Com-o-pote-vazio. Admito que foi fofinho eles dois se encontrando no céu, mas pelo amor de Deus! Eu esperava um final meio budista, cheio de luz e ensinamentos de que a vida continua. Mas não. Aceita que dói menos.

Visão geral:

Capa: Curti. A capa mostra o objeto mais importante da história, o pote de beijos de garoto.
Enredo: Como falei, existem muitos livros e filmes por aí com um enredo bem semelhante. "A Culpa é das Estrelas", por exemplo, segue o mesmo padrão. O que faz esse livro ser especial não é o enredo, mas a forma com que ele é trabalhado.
Personagens: Gostei de tudo e isso é algo raro. Tem sempre uma personagem que eu acho sem sal, nem que seja uma coadjuvante, mas esse não foi o caso aqui. Tillie criou personagens fortes e soube desenvolver a personalidade de cada uma muito bem.
Narrativa: Muito boa. É o primeiro livro da autora que eu leio e eu não parava de resmungar "Ela é muito boa!". Li o livro praticamente em uma tarde. E desconfio de que o real motivo da minha emoção tenha sido porque tudo que aconteceu pareceu que estava acontecendo comigo. Gostei mesmo!
Indicaria para alguém: Não só indicaria como já o fiz.
Quantidade de coraçõezinhos que merece: Quatro! Mil! Um milhão!

" - Rune, não conte para ninguém, mas eu saio em aventuras. - Eu torci a cara. Não entendi. Poppy chegou mais perto e me olhou nos olhos. Apertou meus braços. Inclinou a cabeça. Olhou para os lados e então se curvou para falar. - Normalmente não levo ninguém comigo às jornadas, mas você é um viking, e todo mundo sabe que os vikings ficam altos e fortes e que eles são muito bons em aventuras e explorações, em longas caminhadas, em pegar bandidos e... em todo tipo de coisa! - Eu ainda estava confuso, mas Poppy se afastou e estendeu a mão de novo. - Rune - ela disse, com a voz séria e forte - você mora na casa ao lado, é um viking e eu amo vikings. Acho que devemos ser melhores amigos."