Ahhhhh, o sol! Tão odiado por mim no Brasil, tão loucamente idolatrado na Dinamarca! Posso jurar que o sol que ilumina Copenhagen não é o mesmo que cai sobre o Rio de Janeiro. Lá ele era uma besta cruel, quente, causador das minhas enxaquecas e de odores fétidos no ônibus. Aqui ele é uma estrela ligeiramente morninha, aquecedora de corações, causadora de bom humor e felicidade. Como pode ser o mesmo? Duvido! O sol é algo que nunca damos tanta atenção no Brasil a não ser para reclamar de como está calor ou se precisamos dele durante nossas férias na praia. Aqui na Escandinávia, entretanto, ele é importantíssimo. E eu senti na pele o quanto subestimei sua importância na minha vida antes de vir para cá.
A primeira vez que percebi a relação dos dinamarqueses com o sol foi em Maio de 2014 quando vim visitar o Gustavo (pra quem não sabe, ele veio morar aqui 1 ano antes de mim). Recém chegada do outono (só que não) carioca de 30 graus, eu estava achando o tempo de 20ºC bem fresquinho. Aqui era primavera e os dinamarqueses estavam jogados em bando em qualquer gramado que pudesse ser encontrado pela cidade. Tinha mulher de sutiã, homem sem camisa. Todos usando óculos escuros, roupas de verão, vermelhos que nem camarão e bebendo cerveja. As crianças enlouquecidas correndo de um lado para o outro e os adolescentes em grupos "torrando" no sol e ouvindo música alta. E eu de calça jeans, tênis e blusa de tricot. O Gustavo já tinha passado o inverno aqui e entendia o que os dinamarqueses estavam vivendo. Ele implorava para que nos juntássemos ao bando de pessoas que estava fazendo fotossíntese nos parques e eu respondia: "Tá doido! Tô por aqui com o sol!". Ele tanto pediu que encontramos um lugar em que eu pude ficar sentada na sombra de uma árvore, e ele no sol, como vocês podem ver na foto abaixo (reparem no cara morgado atrás de mim).
Quando eu vim pra cá de vez era o dia 29 de abril e ainda fazia frio. Apesar disso, já era primavera e o sol demorava para ir embora. A luminosidade me irritava um pouco, na verdade. Escurecia às 22:00 e já estava claro de novo às 5:00. Meu corpo começou a estranhar esse horário e a gritar pelo Ciclo Circadiano que eu estava acostumada. Por exemplo, à meia noite eu não conseguia dormir porque meu cérebro burrinho pensava que tinha acabado de anoitecer e, logo, ainda deveria ser por volta de 20:30 ou 21:00. E mesmo dormindo tão tarde, às 6:00 eu já estava acordada porque meu corpo entedia que já era hora de acordar. As horas em que eu sentia fome também ficaram esquisitas. Durante maio e junho os dias foram ficando cada vez mais longos, e ainda fazia frio. Em julho os dias eram incrivelmente longos e eu me sentia cansada o tempo inteiro, já que não dormia direito. Fez calor durante um fim de semana e nós corremos para a praia no sábado e para Island Brygge no domingo. Island Brygge é um lugar muito legal aqui em Copenhagen onde você pode tomar banho no porto. É completamente limpo e super diferente.
Bem, no final de julho fomos para Nova York e perdemos o final do verão dinamarquês. As pessoas juram que fez calor, mas nós só testemunhamos dois dias quentes no ano passado já que, quando voltamos dos Estados Unidos já era outono e a realidade era completamente diferente. Lembro de olhar para a rua da minha casa e pensar que era outro lugar. As árvores estavam meio peladas/ meio coloridas, as calçadas estavam abarrotadas de folhas secas e o céu era a coisa mais deprimente que eu já tinha visto. Passei as três primeiras semanas em um estado de espírito super depressivo porque ficava claro às 8 da manhã e escurecia às 16:30. Durante as horas de claridade, não se via o sol. Parecia que alguém tinha adicionado uma camada fosca no photoshop em cima da cidade, que estava sempre nublada e, às vezes, mergulhada em névoa. O frio e o vento estavam mais forte do que eu já tinha experimentado por aqui (vou fazer um post só sobre o vento copenhaguense qualquer dia). O inverno chegou, a neve chegou, as temperaturas abaixo de zero chegaram e eu fiquei super empolgada porque tudo era novidade. E foi isso que me fez sobreviver a esse inverno: a novidade. No inverno, os dias duravam de 8:30 às 15:30.
Foto tirada às 16:00 no final do outono |
Para sobrevivermos ao inverno compramos um suplemento de vitamina D, que tomávamos uma vez por dia já que a falta de sol (na verdade, a falta de vitamina D) pode trazer algumas complicações como a temida depressão. Novamente, eu vivia cansada. Às 19:00 meu corpo pedia "pelo amor de Deus" que eu fosse dormir, pois ele achava que já era meia noite. Às 7:00, eu me arrastava da cama com os olhos incrivelmente pesados e o dia só clareava depois que eu já tinha começado a trabalhar. Quando meu expediente acabava, já estava escuro de novo. De novo, meus horários de comer ficaram confusos. Ver o sol era tão raro que, quando isso acontecia, a cidade saía em peso para as ruas, mesmo que estivesse fazendo um frio congelante do lado de fora. Um dia, acordei num domingo de manhã para ir ao banheiro. Íamos ficar morgando em casa como tínhamos feito nos domingos anteriores mas, quando olhei pela janela, vi o sol! Acordei o Gustavo que nem uma criancinha empolgada: "Gustaaaaavo! Acorda! Acorda! Acorda! Tá soooool!". Ele levantou em um pulo, nos arrumamos em 5 segundos, pegamos nossas bicicletas e fomos pedalando até um lago que tem por aqui. Passeamos por lá e sentamos para ler um livro. Estava 3 graus. Eu estava congelando, mas estava feliz. Foi o primeira dia da minha existência em que eu amei o sol. Não, eu idolatrei o sol. Pena que ele foi embora tão rápido, como vocês podem ver nas fotos abaixo. Depois disso as nuvens voltaram e a névoa voltou. O sol surgia novamente uma vez a cada 15 dias, e a população novamente saía para passar frio e fazer fotossíntese. Eu sentia muita saudade daquela época de verão em que a claridade me irritava e me fazia acordar às 6 da manhã. Sério... ninguém tem noção do quão ruim é ficar sem o sol até que isso acontece. Eu não consigo nem imaginar como o povo mais ao norte da Noruega, Finlândia, Groenlândia e afins vive sem sol algum no inverno.
Essa é a minha primeira primavera pós inverno em um país onde as estações realmente existem, e é sensacional! As árvores estão cheias de mini-folhas enroladinhas esperando mais alguns dias para deixarem a paisagem verde novamente. E as flores... Aaaah, as flores! Depois de um inverno pelado e sem cor, as plantas todas gritam desesperadamente: "Sol! Sol! Sol! É agora ou nunca, galera! Vamos reproduzir!". E aí as flores surgem... por todos os lados.. em todos os lugares. E eu fico que nem mineiro vendo a praia pela primeira vez, encantada com tudo!
Mini-folhas |
Toda vez que lembro daquele maio de 2014 quando vim visitar o Gustavo e tirei sarro de todos os dinamarqueses que ficavam estirados naquele sol mequetrefe, com aquele calor mequetrefe eu chego à mesma conclusão: agora sou um deles!
E quem estava doida pra usar seus super casacos????? kkkkkkkk Vou compartilhar. bjs
ResponderExcluirDemais! Me deu muita saudade de vc. Te amo.
ResponderExcluirPatty